domingo, 13 de fevereiro de 2011

NO TEMPO E NO ESPAÇO

Duas cabeças dois pensamento

Li um dia em que andava desenfreada a fazer pesquisas sobre fuguras mitológicas que Aristófanes, poeta cómico grego, contemporâneo de Sócrates, afirmou que no começo os homens eram duplos, com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas. Esses seres mitológicos eram chamados de andróginos. Os andróginos podiam ter o mesmo sexo nas duas metades, ou ser homem numa metade e mulher na outra.

Bem, isso tudo Aristófanes criou para explicar a origem e a importância do amor.

O mito fala que os andróginos eram muito poderosos e queriam conquistar o Olimpo dos deuses, e para isso construíram uma gigantesca torre. Os deuses, com o intuito de preservar o seu poder, decidiram punir aquelas criaturas orgulhosas dividindo-as em duas, criando, assim, os homens e as mulheres.
Segundo o mito, é por isso que homens e mulheres vagueiam infelizes, desde então, em busca de sua metade perdida. Tentam muitas metades, sem encontrar jamais a certa.

A parte do mito sobre a origem da humanidade perdeu-se ao longo das eras, mas a idéia de que o homem é um ser incompleto, em sua essência, perdura até hoje. Talvez seja em função disso que o ser humano busca, incessantemente, pela sua alma gemea para preencher sua carência afetiva.

Embora o romantismo tenha sustentado esse mito por milenios, e muitos de nós desejemos que exista a outra metade eterna, é preciso refletir sobre isto à luz da razão.

Se fossemos seres incompletos, perderíamos a nossa individualidade. Seríamos um espírito pela metade, e não poderíamos progredir, conquistar virtudes, ser feliz, a menos que nossa outra metade se juntasse a nós.
É certo que vamos encontrar muitas pessoas na face da terra com as quais temos muitas coisas em comum, mas são seres inteiros, e não pela metade. O que ocorre é que, quando convivemos com uma pessoa com a qual temos afinidades, desejamos retê-la para sempre ao nosso lado.

Até aí não haveria nenhum inconveniente, mas acontece que geralmente desejamos nos fundir numa só criatura, como os andróginos do mito. E nessa tentativa de fusão é que surge a confusão, pois nenhuma das metades quer abrir mão da sua forma de ser. Geralmente tentamos moldar o outro ao nosso gosto, violentando-lhe a individualidade.

O respeito ao outro, a aceitação da pessoa do que ela é, sem dúvida é a garantia de um bom relacionamento.

Assim, a relação entre dois inteiros é bem melhor do que entre duas metades. As diferenças é que dão a tonica dos relacionamentos saudáveis, pois se pensássemos de maneira identica à do nosso par, em todos os aspectos, não teríamos uma vida a dois. Pessoas com idéias diferentes têm grande chance de crescimento mútuo, sem que uma queira que o outro se modifique para que se transformem num só.

Assim, vale a pena pensar que embora o romantismo esteja presente em novelas, filmes, peças teatrais, indicando que a felicidade só é possível quando duas metades se fundem, essa não é a realidade.

Todos somos espíritos inteiros, a caminho do aperfeiçoamento integral.
Não seria justo que os nossos esforços por conquistar virtudes fossem em vão, por depender de outra criatura que não sabemos nem se tem interesse em se aperfeiçoar.

Por todas essas razões, acredita que não precisas de outra metade para ser feliz.
Luta para construir na própria alma um recanto de paz, de alegria, de harmonia e segurança, como espírito inteiro que é.

Só assim terás mais para oferecer a quem quer que encontres pelo caminho, com sua individualidade preservada e com o devido respeito à individualidade do outro.

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