Um dia em conversa com umas colegas de conservação, desabafei
que tinha que fazer um trabalho para História da Cenografia, e que para além do
trabalho teórico gostaria de ilustrar o meu trabalho com uma maqueta em 2D.
Estava a pensar num quadro, mas esse quadro teria de se adequar a uma
representação em 2D, e não me lembrava de nenhum no momento por estar muito cansada.
Perguntaram-me se estava a pensar num autor português ou num autor estrangeiro.
Disse-lhes que preferia português. Tenho uma proposta para ti, é uma obra
fantástica e tese de Doutoramento, que deveria ser reproduzido, uma obra
fantástica de um pintor que foi genial e com uma carreira curta, disseram-me,
amanhã trago o livro sobre o pintor, editado pela Gulbenkian. Quando no dia
seguinte me deram o livro e o abri, fascinou-me de imediato as cores terra e quentes,
como o pintor desenhou a cozinha, e como me fez recordar a minha infância,
quando as minhas tias e a minha mãe se juntavam para preparar a ceia natalícia,
os doces, as filhoses, senti o cheiro dos bolos, da lenha a arder no forno.
Ainda hoje quando vou ao Alentejo o cheiro está presente em mim, entranhado nas
narinas, na pele. E foi assim que conheci Amadeo de Souza-Cardoso, a Cozinha de
Manhufe.
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