sábado, 24 de maio de 2014

7 Quadros 7 contos

Conto V

Em 1996 comecei a aprender a pintar num estúdio de pintura porque me sentia com vontade, inspiração e cheia de certezas que seria bem-sucedida nas minhas vontades. Uns anos mais tarde, e por indicação de uns amigos, recomecei a as minhas aulas de pinturas mas desta vez a ter aulas de figura humana com um outro pintor, um aristocrata italiano que tinha, por razões anarcas e marginais, deixado o curso de medicina e se tinha embrenhado na floresta Amazónica. Quando um dia me confrontei com a primeira aula de pintura de figura humana e ele me perguntou o que queria por na tela, disse-lhe que precisava de um modelo porque só pela imaginação e criatividade não chegaria lá. Abriu um grande livro de pintura que tinha em cima de uma mesa, ia folheando devagar para eu escolher um modelo, depois de passar algumas páginas parou numa que me prendeu o olhar. Uma mulher de costas, semi nua, esperava sentada numa cama, a predominância das cores atraíram-me de imediato. A Toilete, de Henri de Toulousse-Lautrec, era esse o modelo. Uma mulher que Lautrec pintou das muitas vezes que a visitou. O quadro ficou fantástico, era a minha versão, claro que sempre que eu entrevia, lá estava a supervisão do mestre. Dei-lhe o nome de “A Espera”. Mais tarde, 2 anos depois, um amigo revelou-me que estava apaixonado, e que gostaria de oferecer ao amor da sua vida um quadro, e gostaria que fosse eu a pinta-lo. Explicou-me a história e como tinha conhecido a amada, e de imediato revi naquele quadro a história dele, e apresentei-lhe a minha “Espera”. O meu amigo comprou-me o quadro, a minha versão de Lautrec, gostou tanto que quis ficar com ele, mas ironicamente acabou por o pendurar numa das paredes da casa, a relação desfez-se, não passou da paixão, quiçá como a versão original do quadro Lautrec .  


2 comentários:

YellowMcGregor disse...

"O amor da sua vida" que se desfez, diluído na volatilidade da paixão. E pelo meio... o quadro, a "Espera"... quantos de nós não esperamos encontrar o "amor da nossa vida", num embrenhado mar de paixões?

Com um ramo de :-)

José Alberto disse...

"(...)recordo o cheiro, da terra molhada, dos toros a arder na lareira que crepitava durante toda a noite enquanto as mulheres amassavam as filhós, o pão e os folares no forno a lenha nas épocas festivas(...)"

«A verdadeira beleza está nos detalhes do mundo... nas coisas mais simples da vida...»
(friendly860)